terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Impressões de Leitura: O Amor é um Cão dos Diabos






Eu lembro que o primeiro livro que li do Bukowski foi o maravilhoso "Misto Quente", que eu comprei sem conhecer o autor, sem nenhuma pretensão e me apaixonei loucamente. Aquela sua acidez, a sua desmistificação da glória da vida americana me deixaram tão envolvida que eu não conseguia me despregar do livro. Desde então li muitas coisas dele, e ainda tem muito para ler, e gostei da maioria que li.O velho safado se tornou um dos meus escritores favoritos, e muito gente já me questionou porque eu, como feminista, gosto de Bukowski. Sim, por vezes ele é machista e chato. Por vezes eu quero socar a cara dele, mas a qualidade da sua escrita, o seu senso crítico a respeito da selvageria da vida nas metrópoles capitalistas me emocionam.Enfim gosto de Bukowski, me julguem!No entanto, lendo "O Amor é um Cão dos Diabos" descobri que eu prefiro seus romances e contos. Eu gostei de muitos poemas que compõe essa coletânea, mas eles não me emocionaram de fato. Eu não sei se é o momento que me encontro, ou se é a "temática" de grande parte dos escritos do livro, mas a dobradinha de sexo, mulheres e cerveja, e só, as vezes me cansam.Eu gosto do Bukowski crítico, descrente, ácido.Eu gosto do seus poemas mais "intimistas" e apaixonados como o MARAVILHOSO "Dinosauria, we" (meu preferido) ou o famoso "Bluebird" e o fofo "My Cats", pode ser meio simplista demais da minha parte, mas é essa face do Buk que me apaixona mais.Enfim "O Amor..." é um bom livro, mas não é imperdível, ao menos para mim. Porém ainda continuo amando esse velho bêbado, mesmo com todas as suas besteiras e preconceitos.




Meu poema favorito <3

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Impressões de Leitura: Um Teto Todo Seu





"Supõe-se que as mulheres sejam geralmente muito calmas, mas as mulheres sentem exatamente como os homens elas precisam de exercício para suas faculdades e de um campo para seus esforços, tanto quanto seus irmãos; elas sofrem de uma contenção rígida demais, de uma estagnação absoluta demais, precisamente como sofreriam os homens; e é tacanhice de seus semelhantes mais privilegiados dizer que elas devem limitar-se a fazer pudins e costurar meias, a tocar piano e bordar sacolas. É impensado condená-las ou rir delas quando buscam fazer mais ou aprender mais do que os costumes declararam ser necessário para seu sexo." 



           
Participar do clube de leitura do projeto Bastardas vem me rendendo sempre experiências gratificantes. Primeiro foi com a leitura do maravilhoso Tête-à-Tête e agora com o igualmente maravilhoso "Um Teto Todo Seu", livro que há muito vinha ensaiando ler e ficava protelando.

 
O livro é um ensaio baseado numa palestra ministrada por Virginia Woolf em duas escolas para mulheres na Cambridge University. No ensaio Woolf examina a condição e o papel da mulher na literatura ao longo dos anos, partindo da premissa de que "uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu se quiser escrever ficção”.
Mais do que analisar a trajetória da mulher na ficção a obra é quase que um libelo feminista sobre a condição feminina no mundo das artes, especialmente da literatura.
 

       
De maneira sarcástica, envolvente e apaixonada, Vírginia vai buscando na história, em livros escritos por mulheres, e por homens também, um fio de entendimento que nos permita compreender as características de uma prosa feminina, ou mesmo se essa prosa de fato existe e é possível.

No início do livro eu achei a escrita um pouco arrastada e intricada mas no decorrer dos capítulos eu queria abraçar a Mrs. Woolf e dizer o quanto sua fala ali é inspirada e sobretudo consciente da situação feminina. E é triste perceber que a análise presente na obra, que foi lançada em 1929, ainda se aplica na situação da mulher na literatura ainda hoje, em pleno ano de 2015. 


A questão dos homens ainda "deterem o monopólio", por assim dizer, do mundo literário ainda é a regra dominante.

Poucas mulheres ganharam grandes prêmios literários, poucas tem seu talento reconhecido e várias vêem suas obras legadas a categoria de "livros de mulherzinhas", categoria tida num tom pejorativo.
E as personagens femininas retratadas por homens são sempre criadas como suporte para um personagem masculino. Elas não tem alma, não têm vontade própria, a suas ambições são sempre ligadas ao amor, ao casamento e a família.
 


Essas questões Virgínia nos mostra de maneira brilhante em sua fala que é panfletária, sem o ser, ela defende a mulher na literatura, ela aponta erros e acertos e critica a postura patriarcal, de forma não cheia de ódio, mas com um brilhante sarcasmo. E sobretudo ela defende a independência feminina e a crença de que não é a mulher que nasce incapaz ou ignorante, mas as exigências domésticas que a sociedade lhe impõe, que mata aos poucos a sua sensibilidade e a sua força criativa, por isso a necessidade de "um teto todo seu", um canto onde ela possa ter sua privacidade garantida, para ter com seus próprios pensamentos e sensibilidade.
 


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Impressões de Leitura: O Colecionador - John Fowles





De início eu digo que esperava mais desse livro. Não me intendam mal, eu gostei da obra, gostei bastante, é uma história envolvente, bem narrada, mas em alguns momentos os personagens me parecem tão irritantes, que quebram um pouco a "mágica da história".O Colecionador,  narra a vida do simplório e tímido Frederick Clegg, funcionário público que tem por hobby colecionar borboletas e é obcecado pela estudante de arte Miranda. Após ganhar um prêmio em uma aposta Clegg, arquiteta um plano para "coletar" a jovem estudante, pensando que com isso Miranda iria aprender a amá-lo.A sinopse da obra já nos cativa, e a narrativa é impregnada de uma prosa tão poética que nos faz apaixonar e se deleitar com a história a ponto de, por vezes, sentirmos pena de Clegg, da sua vida sofrida, da sua mente perturbada. No entanto ao chegarmos nos relato de Miranda, o livro começa a perder um pouco de força em variados momentos. A personagem as vezes me dá raiva, pelo seu elitismo exagerado, claro que dá raiva de Clegg também, do fato dele aprisionar e violentar psicologicamente a moça, mas o elitismo e a arrogância de Miranda me fizeram não identificar tão absolutamente com ela, porém o personagem que mais odiei de fato, e olha que ela aparece só em relatos, é o tal do G.P, o pintor paixão da jovem. Que cara chato! Em seus preconceitos de classe, em seu ódio a gente comum, a vida e a tudo, com a sua pretensa sabedoria de julgar o que é arte ou não, um perfeito coxinha, que me deu asco e nojo.Totalmente irritante.Nos capítulos finais o livro volta a entrar nos eixos novamente, e comecei a compreender um pouco mais de Miranda e comecei a analisar a obra sobra a ótica sexista (sim, sou dessas). Clegg, é uma alegoria machista, separando mulheres da casa e mulheres da rua, pensando que aprisionar uma mulher, sua liberdade, suas escolhas é sinal de amor e cuidado, acreditando que, mulher não deve ter desejos sexuais, que se tem é uma piranha e vagabunda. Ele em seus preconceitos e sua cabeça perturbada, é um produto do ódio e "cagação de regras" que a sociedade constantemente impõe às mulheres.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Impressões de Leitura :Tête-à-Tête






Fazia tempo que queria ler esse livro, mas sempre protelava a compra do mesmo, por estar caro ou por não achar. Porém como o projeto de leitura de janeiro do Bastardas era lê-lo e como o mês é o mês do meu aniversário, decidi me presentear com a obra.
E que belo presente eu me dei. 
As 410 páginas desse livro são todas tão intensas, te prendem tanto que não dá vontade largá-lo.
Como é deliciosa a leitura e como é linda a história de amor que se passa nessas páginas.
Sim, porque sobretudo é uma história de amor.
Desde quando eu descobri o feminismo e consequentemente acabei descobrindo a Simone de Beauvoir, sua história e  sua figura sempre me deixaram apaixonada. A força , a coragem e ousadia dessa mulher, que ousou se impor e se destacar num mundo tão "de homens" como era, e ainda é esse nosso planeta, me fizeram também ter ousadia de romper os padrões de comportamentos submissos e conformados atirados sobre nós mulheres. 
Simone me ensinou a acreditar que eu posso e devo querer mais. Ela me deu coragem.
E saber da sua história de vida, da sua face humana, tão cheia também de dúvidas, de fraquezas, de ciúmes, enfim de sentimentos comuns a todxs nesse mundo, me fizeram admirá-la ainda mais.
Assim, eu amei a forma como autora humaniza Simone e Sartre, a forma com que ela mostra que acima de seus erros e acertos, eles eram humanos.
E sua relação, baseada no amor intelectual (muito além do físico apenas) é fonte de admiração, embora também seja cheia de erros , como todo e qualquer relacionamento. 
Em alguns momentos, a forma como eles mentiam para seus outrxs amantes ou a forma como eles usavam as pessoas (sobretudo Sartre) me chocou, porque ao mesmo tempo que eles ajudavam esses "amores contigentes" tanto financeira quanto intelectualmente, eles os envolviam num turbilhão de lances sentimentais, sem ao menos ouvi-los. Mas esse egoísmo não é também outro retrato de sua humanidade?
Eu de fato me apaixonei mais ainda por essa Simone e me decepcionei, as vezes, com Sartre, que me parece ser aqui um tanto arrogante e enganador em demasia. Enquanto ele recebia os louros de sua produções, brilhantes é claro, Simone muitas vezes era acusada de ser somente uma seguidora, não por culpa dele é claro, mas da sociedade que se incomodava por aquela mulher tão segura, independente e apaixonante.
Enfim, eu amei o livro, eu o li avidamente, eu chorei e senti pela morte de Sartre, eu chorei por Simone, e eu os amei, por aquilo que eles tiveram de melhor, além do intelecto, seu amor pela liberdade, seu amor pela vida, sua humanidade e sua vontade de viver tudo agora ao mesmo tempo.