quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Impressões de Leitura: Um Teto Todo Seu





"Supõe-se que as mulheres sejam geralmente muito calmas, mas as mulheres sentem exatamente como os homens elas precisam de exercício para suas faculdades e de um campo para seus esforços, tanto quanto seus irmãos; elas sofrem de uma contenção rígida demais, de uma estagnação absoluta demais, precisamente como sofreriam os homens; e é tacanhice de seus semelhantes mais privilegiados dizer que elas devem limitar-se a fazer pudins e costurar meias, a tocar piano e bordar sacolas. É impensado condená-las ou rir delas quando buscam fazer mais ou aprender mais do que os costumes declararam ser necessário para seu sexo." 



           
Participar do clube de leitura do projeto Bastardas vem me rendendo sempre experiências gratificantes. Primeiro foi com a leitura do maravilhoso Tête-à-Tête e agora com o igualmente maravilhoso "Um Teto Todo Seu", livro que há muito vinha ensaiando ler e ficava protelando.

 
O livro é um ensaio baseado numa palestra ministrada por Virginia Woolf em duas escolas para mulheres na Cambridge University. No ensaio Woolf examina a condição e o papel da mulher na literatura ao longo dos anos, partindo da premissa de que "uma mulher deve ter dinheiro e um teto todo seu se quiser escrever ficção”.
Mais do que analisar a trajetória da mulher na ficção a obra é quase que um libelo feminista sobre a condição feminina no mundo das artes, especialmente da literatura.
 

       
De maneira sarcástica, envolvente e apaixonada, Vírginia vai buscando na história, em livros escritos por mulheres, e por homens também, um fio de entendimento que nos permita compreender as características de uma prosa feminina, ou mesmo se essa prosa de fato existe e é possível.

No início do livro eu achei a escrita um pouco arrastada e intricada mas no decorrer dos capítulos eu queria abraçar a Mrs. Woolf e dizer o quanto sua fala ali é inspirada e sobretudo consciente da situação feminina. E é triste perceber que a análise presente na obra, que foi lançada em 1929, ainda se aplica na situação da mulher na literatura ainda hoje, em pleno ano de 2015. 


A questão dos homens ainda "deterem o monopólio", por assim dizer, do mundo literário ainda é a regra dominante.

Poucas mulheres ganharam grandes prêmios literários, poucas tem seu talento reconhecido e várias vêem suas obras legadas a categoria de "livros de mulherzinhas", categoria tida num tom pejorativo.
E as personagens femininas retratadas por homens são sempre criadas como suporte para um personagem masculino. Elas não tem alma, não têm vontade própria, a suas ambições são sempre ligadas ao amor, ao casamento e a família.
 


Essas questões Virgínia nos mostra de maneira brilhante em sua fala que é panfletária, sem o ser, ela defende a mulher na literatura, ela aponta erros e acertos e critica a postura patriarcal, de forma não cheia de ódio, mas com um brilhante sarcasmo. E sobretudo ela defende a independência feminina e a crença de que não é a mulher que nasce incapaz ou ignorante, mas as exigências domésticas que a sociedade lhe impõe, que mata aos poucos a sua sensibilidade e a sua força criativa, por isso a necessidade de "um teto todo seu", um canto onde ela possa ter sua privacidade garantida, para ter com seus próprios pensamentos e sensibilidade.
 


Um comentário:

  1. Pretendo começar esse livro em breve, assim que acabar de ler a biografia de Sylvia Plath!

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