quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O processo de aceitação de si mesma ou porque eu preciso do feminismo

Na última sexta-feira  a atriz canadense Ellen Page declarou-se homossexual em um discurso belíssimo em uma conferência sobre os direitos LGBT em Las Vegas. Page, que atuou nos filmes Juno, X-Men, entres outros, conseguiu emocionar e defender de forma enfática e bela os direitos da população homossexual e deu um gás e uma força a mais na luta contra a homofobia e pela liberdade.
Eu assisti ao vídeo e particularmente me emocionei muito pelas palavras, pela força e pelo incentivo que Ellen consegue transmitir. Para mim faz muito sentido que uma figura pública tenha a coragem de quebrar a barreira de preconceito e assumir-se, isso faz com que as pessoas de modo geral, tenha um alicerce a mais para se declarar, se assumir, se amar, enquanto gay, lésbica, trans, ou qualquer configuração outra de sexualidade que possa surgir. 
Num dos trechos que mais me fez refletir e me tocou de um modo pessoal, se dá quanto a atriz comenta sobre os padrões de beleza defendidos por Hollywood, aliás, não só por Hollywood mas pela indústria do entretenimento e da moda como um todo.  
Nessa parte Page declara que:  "(..) É estranho alguém como eu falar sobre vocês, é estranho porque eu, uma atriz, represento, em algum sentido, uma indústria que impõe padrões esmagadores sobre nós. Não apenas jovens, mas todos. Padrões de beleza, de bem estar, de sucesso. Padrões que, eu admito, me afetaram." Sim, ela, famosa, estrela de Hollywood, teoricamente bem sucedida, também é afetada por esses padrões de "como deve ser seu corpo para que você se dê bem", que nos atinge constante e diariamente.
E sim, eu, mulher e feminista, devo admitir que levo comigo, ao longo desses 23 anos os preconceitos em relação ao meu próprio corpo. Em que sentido? Bom eu sempre fui gordinha (isso para os padrões da sociedade), sempre tive as pernas grossas, o quadril largo e sempre fui baixinha, características genéticas que herdei da minha mãe, e durante toda a minha fase de criança à adolescência, mais ou menos até os doze anos, eu tinha ódio do meu próprio corpo. Eu tinha que enfrentar as piadinhas da escola, ou os adultos me dizendo que eu tinha que emagrecer, porque gordinhas eram nojentas, não saudáveis, feias e nunca iriam arrumar namorado. E as minhas bonecas, os programas de TV, me diziam a mesma coisa. E eu amava e amo comer, e todas as dietas malucas que fiz ao longo do tempo só me fazia ficar nervosa.
Assim eu internalizei isso, eu tinha vergonha de sair de casa, eu não tinha amigos, e isso só porque eu não me encaixava, e não me encaixo, e acho que uns 90% das mulheres também, nesse padrão criado e imposto a nós mulheres, para nos reprimir, para que percamos tempo em nos odiar.
O fato é que ainda hoje tenho os meu ataques, vez ou outra me pego com raiva de ter uns quilos a mais, de não ser o "padrão" , que de padrão não tem nada, e eu fico com raiva de mim, porque eu defendo que as mulheres se amem da forma como são e no entanto, a minha própria aceitação está sendo constantemente construída. E essa construção eu devo ao fato de ter me tornado feminista.
A partir dos doze anos eu comecei a perceber como o mundo era, e é, cruel com as mulheres, como as nossas forças, os nossos anseios, são limitados por preconceitos, por regras que são impostas a nós. E nessas regras está incluso o fato de que devemos nos odiar, devemos nos odiar por ser magras, gordas, baixas, altas, ou o que for, devemos nos odiar por ter uma vagina, devemos nos odiar e viver a sombra de uma figura masculina porque a nossa capacidade é limitada.
E sim minha gente, apesar de todas as conquistas que nos tivemos ao longo do tempo, o mundo ainda é assim.
Então diariamente eu tenho que fazer um exercício de que sou linda como sou, todos os dias eu tenho que me defender de mim mesma, do pensamento sexista em relação ao meu corpo, que é minha luta diária.
Por isso eu preciso do feminismo, por isso eu gostei da Ellen se assumir enquanto gay, eu gostei do seu discurso que luta contra as formas de preconceito e opressão, porque incentiva aos homossexuais para não ter medo de ser aquilo que se é, porque nos incentiva, a mim enquanto "odiadora" do meu corpo e as outras meninas, mulheres  para que amem, não um padrão oficial de corpo, mas o seu padrão pessoal que lhe faz única no mundo. 


Um comentário:

  1. Bem-vinda ao mundo dos blogs, queennoise! Vou acompanhar de perto as postagens! Muita força pra você!

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