quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Onde estão as mulheres das artes?



Fotografia de Cyndi Sherman (eu amo), fazia selfie antes de ser moda



O mundo ainda é um lugar muito hostil com as mulheres. Infelizmente o patriarcado, o machismo, as  o preconceito de gênero está entranhando tão profundamente nas nossas mais pequenas ações do dia-a-dia, em cada palavra, gesto, que por vezes temos esse comportamento como normal.
No mundo das profissões  esse cenário não é muito diferente, aliás, a mulher ainda ganha menos que o homem, são as mulheres negras a maioria em cargos de domésticas e serviços gerais, as mulheres em cargos de chefia ou cientistas ainda são muito poucas, ou seja, uma realidade bem longe da igualitária.
No meio artístico esse fato ainda se repete. Quantas pintoras nós conhecemos? Quantas fotógrafas? Quantas escritoras? Quantas cineastas? Quantas musicistas? Quantas obras feitas por mulheres nós conhecemos e/ou estudamos? É uma proporção desmerecedora. Na maioria das vezes essas obras são consideradas obras menores, a genialidade da produção feita por mulheres é legado ao limbo da definição de "literatura/pintura/música/etc de mulheres", e essa definição é pejorativa, como se tais obras fossem gêneros menores, melosos e nunca ao alcance da genialidade do masculino.
Se formos pensar em arte feita por mulheres negras, transexuais, e etc, esse limbo se alarga ainda mais.
Na minha área de formação, que é o cinema, nós vemos muitas mulheres na função de produtora, roteiristas e mesmo diretora, mas pouquíssimas dessas alcançam algum reconhecimento público, para se ter uma ideia só muito recentemente, em 2012, é que a primeira mulher foi premiada como diretora no Oscar, prêmio cujo os homens ainda são maioria dentre seus ganhadores, de acordo com pesquisa sobre a questão de gênero no cinema, feita pela New York Film Academy.Ainda de acordo com essa pesquisa, as mulheres no cinema além de ganharem salários menores, têm papéis menores e são mais sexualizadas, dados que,para qualquer bom observador, não é nenhuma novidade. 
Ou seja, ainda hoje nós acreditamos que o corpo feminino é mercadoria de troca, que a mulher só pensa em encontrar o seu grande amor, e outros tantos estereótipos que cansamos de aguentar, ver e rever. Como se a diversidade de comportamentos de gênero se definissem pelo fato de se ter ou não um pinto.
Na literatura é fácil percebermos esse "detalhezinho", para ser irônica. Quantos livros escritos por mulheres que somos obrigados a ler na escola? quantas autoras estudamos nas aulas de literatura? Talvez vemos alguma coisa de Clarice Lispector ou Cecília Meireles, mas bem por cima.
É como se a escrita de mulheres fosse um mero acessório, um mero complemento à grande obra masculina. E isso não é reclamação de feminazi, é uma constatação que o mais sensível dos mortais pode ter se parar um pouco para pensar. Veja a capa dos livros "femininos", cheio de flores, tons claros, imagens bonitas, mesmo quando o livro fala de assuntos aterradores. Isso porque as mulheres todas são sensíveis e delicadas? quem disse isso, quem colocou no código genético de mulheres o gene da delicadeza? Amigos, essa separação de sensibilidade feminina x rudez masculina é uma construção social. Vide Frankestein, sim, foi escrito por uma mulher, pasmem. 
 E a cobertura da imprensa aos eventos que envolvam mulheres? estão sempre inventando uma nova musa, como se a valorização do nosso corpo ou cara fosse a valorização da nossa obra.
 Na música, e aqui eu quero falar principalmente do rock/ heavy metal, o preconceito de gênero parece que estacionou. Esse estilo de música, que nasceu como protesto às mazelas da sociedade conservadora, tomou dessa mesma sociedade essa enorme gama de ódio às mulheres. Quando você vai em algum festival é quase impossível ver bandas femininas, é sempre uma glorificação do pênis no clube do bolinha, onde as mulheres só podem e devem entrar como um mero acessório. As bandas femininas são deixada no undeground do undergound, no mínimo vindo a tona para comentários do tipo "toca bem para uma mulher" ou "pelo menos é gostosa". Bem coerente, só que não.
Mas enfim o que podemos fazer para mudar isso? fácil, buscar valorizar, respeitar e conhecer "as mina", projetos legais como o "Leia Mulheres 2014", lançado no EUA pela escritora Joana Walsh , o projeto propôs um ano inteiro para refletir sobre a desigualdade de gênero na literatura e também propôs dedicar esse ano a leitura de livros escritos por mulheres. 
Eu me engajei nesse desafio esse ano, não li apenas mulheres, mas li e busquei conhecer muito mais literatura feminina, e no próximo ano já tenho essa meta de ler mais livros de mulheres e também assistir mais filmes de mulheres e ouvir mais mulheres. E eu convido todxs para engajarmos nessa, vamos aos poucos com o nosso esforço mudar essa realidade tão devastadora desse meio que deveria ser democrático e inclusivo


#leiamulheres2015
#assistamulheres2015
#ouçamulheres2015


Beijas


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